Nos últimos anos, o aumento do número de acidentes aeronáuticos no Brasil tem levantado um alerta sobre o nível de preparo dos pilotos e aviadores, especialmente diante da crescente complexidade do ambiente de aviação.
Em 2024, o país registrou mais de 135 acidentes e mais de 55 incidentes graves, segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA). Esses números apontam para uma questão urgente: qual a melhor forma de capacitar os aviadores para praticar e desenvolver a aviação no País?
Com o objetivo de responder a essa pergunta, pesquisadores têm voltado suas atenções para práticas educacionais que melhor proporcionam e desenvolvem o desempenho cognitivo desses profissionais.
Uma revisão recente, publicada na Revista da UNIFA em 2023, focou no impacto de diferentes tipos de treinamento na cognição dos aviadores, explorando a eficácia de cursos de longa e curta duração na retenção de conhecimentos e na capacidade de resolução de problemas.
A pesquisa, conduzida por Gustavo Mateus Carolino (2023), e disponível aqui, comparou cursos de graduação em Ciências Aeronáuticas com programas de curta duração [alguns deles ofertados em apenas 40 dias de aulas teóricas], concluindo que os treinamentos em Ciências Aeronáuticas proporcionam uma retenção de conhecimento mais duradoura, mesmo sem reforço, e melhoram habilidades cognitivas críticas para o trabalho em aviação.
Segundo o estudo, os cursos de Ciências Aeronáuticas não só permitem uma melhor fixação dos conteúdos teóricos como também fortalecem a capacidade de tomada de decisões em situações complexas, características essenciais para a segurança de voo.
A importância de programas mais extensos é atribuída ao impacto positivo na formação hipocampal e ao fortalecimento da memória de longo prazo. Essas descobertas reforçam a ideia de que o treinamento aprofundado estimula o sistema nervoso dos aviadores, promovendo um desenvolvimento cognitivo mais completo e duradouro. Em contrapartida, cursos intensivos e de curta duração parecem preparar os profissionais para testes imediatos, mas não garantem a mesma proficiência ao longo prazo.
A partir desses achados, o autor da revisão sugere que a formação inicial dos novos aviadores inclua obrigatoriamente cursos de graduação em Ciências Aeronáuticas. Essa proposta visa não apenas o fortalecimento cognitivo, mas também a criação de um perfil de profissional mais bem preparado para enfrentar os desafios e complexidades da aviação moderna.
Imagem da internet.
Diante da escassez de estudos que investigam e abordam o desenvolvimento de competências para os novos aviadores, há também um chamado à comunidade científica para investir em pesquisas robustas sobre o tema e, também sobre os indicadores de competência e seus descritores.
A segurança na aviação, afinal, depende não apenas de tecnologia avançada, mas também do devido preparo cognitivo dos profissionais que se ocupam e praticam aviação, e o Brasil, sendo um dos maiores países em aviação civil e comercial, está em posição estratégica para liderar essa transformação na formação de novos aviadores.
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